Não é só para relaxar
Uma nova pesquisa liderada por universidades dos Estados Unidos revela algo surpreendente: a maioria dos jovens não usa cannabis por um único motivo. Em vez disso, é comum que as pessoas misturem razões — como aliviar o estresse, dormir melhor ou se divertir — durante o mesmo episódio de consumo.
O estudo acompanhou mais de 500 mulheres entre 18 e 25 anos, muitas delas LGBTQ+, durante duas semanas. Elas relataram seu uso de cannabis em tempo real, duas vezes por dia. Os dados revelaram não apenas quanto elas usavam, mas principalmente por quê — e quais efeitos resultavam dessas escolhas.
Quais são os principais motivos?
O motivo mais comum foi o uso de cannabis para lidar com emoções negativas, como ansiedade e estresse (79%). Outros motivos incluíram:
- Procurar sensações agradáveis ou diversão (40%)
- Dificuldade para dormir (25%)
- Motivos médicos, como dor ou náusea (18%)
- Socialização, ou seja, usar para se sentir mais à vontade com outras pessoas (13%)
A maioria das participantes relatou, em média, quase dois motivos por episódio de consumo.
Quanto mais motivos, maior o risco
O estudo mostrou que quanto mais razões uma pessoa tem para consumir, maiores são os riscos associados. As participantes que relataram múltiplos motivos também relataram:
- mais sessões de uso por dia,
- intoxicação mais intensa e duradoura,
- mais efeitos colaterais (como tontura, enjoo ou ansiedade).
Mas não é só a quantidade de motivos que importa — as combinações específicas fazem toda a diferença.
Algumas combinações são mais problemáticas
Usando uma análise estatística chamada “análise de classes latentes multinível”, os pesquisadores identificaram seis combinações comuns de motivos. Entre elas:
- Estresse + socialização + diversão: associada ao uso mais intenso e a maiores consequências negativas.
- Estresse + motivos médicos: associada a um uso mais moderado e menos efeitos adversos.
- Estresse + sono: também mostrou um padrão de consumo mais controlado.
Ou seja: duas pessoas podem citar dois motivos para usar cannabis, mas dependendo da combinação, os efeitos e os riscos podem ser muito diferentes.
O que isso muda para profissionais e usuários
Para profissionais de saúde mental e dependência química, o estudo traz um recado claro: não basta perguntar “com que frequência você usa cannabis?”. É fundamental perguntar também “por quê?” — e, mais importante ainda, “por quantos motivos ao mesmo tempo?”
Dias em que a pessoa usa cannabis para lidar com o estresse, socializar e se divertir podem exigir mais atenção e estratégias de redução de danos. Por outro lado, combinações como uso médico + para dormir parecem representar um risco bem menor.
O estudo também reforça a importância de considerar questões de gênero e sexualidade, especialmente entre jovens LGBTQ+, que enfrentam estressores sociais diferentes e, muitas vezes, consomem cannabis em contextos distintos.
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FAQ: Termos explicados
O que é “motivação de coping”?
É o uso de cannabis para lidar com emoções difíceis, como estresse, ansiedade ou tristeza. Pode ser uma forma de alívio momentâneo, mas também está associado a maior risco de uso problemático.
O que significa “motivação de prazer”?
É quando a pessoa usa cannabis para se sentir melhor, curtir mais o momento, intensificar sensações ou tornar uma experiência mais divertida.
O que é “análise de classes latentes multinível”?
É um método estatístico usado para identificar padrões ocultos nos dados. No estudo, foi usado para detectar combinações frequentes de motivos que aparecem juntos em um mesmo episódio de consumo.
Qual a diferença entre motivo médico e emocional?
Motivos médicos se referem a sintomas físicos, como dor ou náusea. Motivações emocionais (como coping) estão ligadas a estados psicológicos. Ambas podem coexistir, mas têm implicações distintas.