Pesquisadores sul-coreanos identificaram substâncias raras nas flores do Cannabis sativa que inibem de forma significativa o crescimento de células de neuroblastoma, um dos tipos mais comuns de tumor sólido na infância.
Cannabis revela potencial anticâncer promissor
Em um estudo colaborativo entre universidades e agências de saúde da Coreia do Sul, cientistas conseguiram isolar 11 compostos das flores do Cannabis sativa — seis já conhecidos e cinco inéditos, incluindo uma nova classe de substâncias chamada compostos do tipo clorina, até então nunca relatada nesta planta.
Os compostos foram extraídos por meio de técnicas avançadas de cromatografia e analisados por espectroscopia. Entre as descobertas está um novo canabinoide, batizado de cannabielsoxa, e a primeira detecção de derivados de clorina — substâncias conhecidas por sua capacidade de gerar espécies reativas de oxigênio e utilizadas em terapias fotodinâmicas contra o câncer.
Canabinoides demonstram maior eficácia contra células tumorais
As substâncias isoladas foram testadas em células SK-N-SH de neuroblastoma humano, e os resultados mostraram que compostos como CBD (canabidiol), CBDA (ácido canabidiólico) e Δ8-THC reduziram significativamente a viabilidade celular em baixas concentrações.
Segundo os autores do estudo, os canabinoides apresentaram atividade antitumoral superior em comparação com os compostos do tipo clorina, embora estes últimos também tenham mostrado efeitos promissores quando quimicamente modificados.
Inteligência artificial reforça os dados laboratoriais
Para compreender os mecanismos envolvidos, os cientistas realizaram simulações computacionais de acoplamento molecular (molecular docking). Os resultados confirmaram que os canabinoides com maior atividade in vitro também apresentam forte afinidade de ligação com proteínas associadas ao crescimento do neuroblastoma.
Além disso, análises de farmacocinética preditiva (ADMET) indicaram que os compostos possuem boa absorção intestinal e potencial de biodisponibilidade oral, embora apresentem interações com enzimas hepáticas que exigem cautela na dosagem.
Um passo para novas terapias naturais
Apesar das restrições legais que limitam estudos com cannabis na Coreia do Sul, a pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de novos medicamentos derivados da planta, com foco especial no tratamento do neuroblastoma — um câncer de difícil tratamento que afeta principalmente crianças pequenas.
De acordo com os autores, os resultados “oferecem uma base científica sólida para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas baseadas em canabinoides e derivados naturais.”
Leitura complementar
Este estudo soma-se a um crescente corpo de evidências sobre os usos terapêuticos do cannabis além de seus efeitos psicoativos. Pesquisas recentes destacam o potencial de terpenos de cannabis sem THC como alternativa aos opioides no controle da dor (leia aqui) e os efeitos sedativos de extratos de cannabis em pacientes com câncer, auxiliando no sono e redução da ansiedade (acesse o estudo). Juntas, essas descobertas reforçam a versatilidade terapêutica do Cannabis sativa e seu papel emergente na medicina moderna.