Um novo vocabulário para descrever os aromas da cannabis
Pesquisadores da Universidade Estadual do Oregon (Oregon State University), nos Estados Unidos, desenvolveram um glossário científico com 25 termos para descrever os aromas da flor de cannabis. A pesquisa, publicada na revista PLOS One, propõe uma nova base sensorial para compreender e comunicar os perfis aromáticos da planta — um avanço importante para consumidores, produtores e o mercado legal da cannabis.
A ideia é simples e poderosa: substituir termos vagos ou subjetivos, frequentemente usados na rotulagem de produtos, por descritores consistentes, testados com base na percepção humana. Segundo os autores, o aroma é um fator fundamental para a experiência do consumidor, muitas vezes mais relevante do que a potência (nível de THC).
Como o estudo foi conduzido
O estudo reuniu um painel sensorial com 21 especialistas, que analisaram 91 amostras diferentes de flores de cannabis não queimadas. Cada avaliador identificava os aromas percebidos, escolhendo os descritores mais adequados entre dezenas de opções.
O resultado foi uma coleção de mais de 8 mil descrições, das quais três se destacaram como mais recorrentes: “herbal”, “cítrico” e “amadeirado”. A partir dessa análise, os pesquisadores organizaram os dados em uma lista de 25 descritores, criando um vocabulário padronizado para uso em contextos científicos e comerciais.
Importante destacar que o glossário não é uma conclusão definitiva, mas um ponto de partida. O objetivo é que ele evolua com o tempo, com mais amostras, maior diversidade genética e contribuições de consumidores e especialistas de diferentes regiões.
Terpenos não são os únicos responsáveis pelo cheiro
A ideia de que os terpenos — compostos aromáticos naturais presentes na cannabis — são os principais responsáveis pelo aroma das variedades é amplamente difundida na indústria. No entanto, a pesquisa mostrou que essa associação é, na melhor das hipóteses, incompleta.
Os cientistas identificaram padrões químicos nos perfis de terpenos, mas esses padrões não correspondiam de forma confiável às percepções sensoriais do painel. Apenas um terpeno, o terpinoleno, demonstrou alguma consistência, sendo associado com descritores como “cítrico” e “químico”.
Além disso, a concentração total de terpenos também não foi capaz de prever a intensidade ou a frequência de determinados aromas. Em resumo: saber os terpenos presentes em uma amostra não é suficiente para prever seu cheiro.
A relação entre THC, CBD e o aroma
A pesquisa também investigou a correlação entre os níveis de THC e CBD e os aromas percebidos. O resultado é revelador: amostras com alto teor de THC e baixo teor de CBD foram descritas com termos menos agradáveis como “almiscarado”, “animal” e “mofo”. Já aquelas com mais CBD e menos THC foram associadas a descrições como “frutado”, “doce” e “cítrico”.
Isso levanta uma questão crítica: o mercado ainda valoriza principalmente a potência, mas o prazer subjetivo de consumo está mais relacionado ao aroma do que ao conteúdo de THC. A pesquisa reforça a necessidade de reavaliar os critérios usados para comunicar qualidade ao consumidor.
Além dos terpenos: outros compostos influenciam o aroma
Se os terpenos não explicam completamente o aroma, então o que mais está envolvido? Os autores sugerem que outras classes de compostos — como ésteres, aldeídos e compostos sulfurados voláteis — podem desempenhar papéis importantes na formação dos perfis olfativos.
Essas substâncias provavelmente interagem de forma complexa, criando aromas característicos que não podem ser explicados pela simples soma de componentes isolados. A identificação e o estudo aprofundado desses compostos podem abrir novas possibilidades para o desenvolvimento de produtos mais sofisticados e melhor direcionados às preferências dos consumidores.
Impactos para a indústria e para a ciência
O glossário de aromas proposto é uma ferramenta valiosa para padronizar descrições sensoriais e guiar decisões em toda a cadeia produtiva da cannabis — da pesquisa à rotulagem de produtos no mercado legal.
Para os autores, os próximos passos incluem ampliar o número de amostras avaliadas, considerar variáveis agronômicas e de pós-colheita (como secagem e armazenamento), e incluir dados de aceitação do consumidor. O objetivo é tornar o vocabulário mais representativo da diversidade global da cannabis e mais útil para orientar o cultivo, a seleção genética e o desenvolvimento de produtos com maior valor sensorial.
Expandindo o conhecimento: outros estudos sobre cannabis e bem-estar
O estudo sobre o aroma da cannabis se soma a uma série de pesquisas que revelam o potencial da planta além do uso recreativo. Um exemplo é o CBGD, um composto raro da cannabis que mostra efeitos anti-inflamatórios promissores na pele saiba mais aqui. Outro estudo analisa como o uso de cannabis medicinal pode reduzir a dependência de opioides até 2025 leia a análise completa. E uma terceira linha de pesquisa avalia o papel dos psicodélicos e da cannabis na saúde mental pós-pandemia descubra os resultados.
FAQ: O que você precisa saber sobre o glossário de aromas da cannabis
1. Por que criar um glossário de aromas da cannabis?
Para padronizar a forma como os aromas são descritos, com base em dados sensoriais reais, oferecendo mais clareza para pesquisadores, produtores e consumidores.
2. Quais são os aromas mais comuns identificados?
Os descritores mais recorrentes foram “herbal”, “cítrico” e “amadeirado”.
3. Os terpenos são responsáveis pelo cheiro da cannabis?
Parcialmente. Embora contribuam, os terpenos não explicam totalmente o aroma percebido. Outros compostos também estão envolvidos.
4. O teor de THC influencia o aroma?
Sim. Variedades com alto THC tendem a ter aromas menos agradáveis, enquanto aquelas com mais CBD são associadas a notas mais doces e frutadas.
5. Esse glossário será adotado pela indústria?
É possível. Ele oferece uma base científica sólida para melhorar a rotulagem, a comunicação com o consumidor e o desenvolvimento de produtos.
6. O estudo continuará sendo desenvolvido?
Sim. Os autores planejam expandir a pesquisa com mais amostras, incluir variáveis de cultivo e colher dados diretos de consumidores.